sábado, 14 de janeiro de 2012

Tutores levam gatos para passear – e de coleira



O primeiro passo é estipular uma recompensa. Ao contrário dos cães, gatos não fazem o que os tutores querem apenas para agradá-los

Stephanie Clifford, do The New York Times

Tutores levam gatos para passear de coleira em Nova York (Suzanne DeChillo/The New York Times)

Existem gatos que vivem em ambientes externos e gatos que vivem em ambientes internos. Quando adotei Mac, um gato malhado laranja de 4 anos de idade, em um abrigo em 2010, percebi que havia adquirido uma combinação exigente das duas coisas. Apesar de gostar de uma cama confortável e de duas refeições por dia, Mac parecia não querer ficar confinado dentro de um apartamento e corria para fora sempre que eu abria a porta da varanda, retornando horas depois.
A ideia de levá-lo para passear com uma coleira veio depois de vários incidentes infelizes. Ele matou uma rolinha, machucou um pombo, arrancou a coxa de um peru que um vizinho havia deixado na janela para esfriar e se pendurou na tela da porta de outro vizinho perto da meia-noite, o que o fez acordar muito assustado. Mac estava começando a não ser muito querido no prédio e eu percebi que deixar um gato se meter em confusões sete andares acima das ruas de Nova York era algo perigoso.
Mas quando vetei seu acesso ao maravilhoso mundo externo, meu gato, que costumava ser animado e amigável, se jogou contra a porta, uivou e atacou a minha perna com suas garras afiadas. Já tinha ouvido falar em levar gatos para passear no programa "My Cat From Hell", do canal Animal Planet, estrelado por um especialista em gatos chamado Jackson Galaxy. Portanto, comprei uma coleira de chihuahua e a coloquei em Mac, que deitou e recusou-se a se mexer até que eu tirasse aquilo de seu pescoço. Nós dois obviamente precisávamos de ajuda profissional.
A teoria - Galaxy está entre um número crescente de estudiosos do comportamento animal que acreditam que levar gatos para passear é algo não apenas possível, mas saudável. "As pessoas estão desenvolvendo laços mais amplos e profundos com seus animais de estimação e querem fazer coisas com eles", afirma Stephen Zawistowski, conselheiro científico da Sociedade Americana Para a Prevenção da Crueldade Contra os Animais.
Levar um gato para passear oferece um bom equilíbrio entre ter um gato caseiro – que vive muitos anos, mas em um ambiente pouco estimulante – e um gato rueiro – que pode matar pássaros e acabar sendo morto. "É uma maneira de permitir que o gato saia e aproveite o mundo externo, mas sob a sua proteção", disse Zawistowski. Marquei um visita com Galaxy e resolvei transformar Mac em um gato passeador.
Com sua bandana, longo cavanhaque e muitas tatuagens, Galaxy parece mais um motoqueiro que um especialista em gatos. Ele trabalhou em abrigos para os felinos durante nove anos antes de se tornar um comportamentalista de animais profissional (cada consulta de duas horas em casa custa 375 dólares). Embora acredite que praticamente todos os problemas com gatos podem ser resolvidos, Galaxy afirma que os donos também precisam modificar seus comportamentos.
"Não acreditamos que seja legal deixar um gato sozinho durante 14 horas, apenas com um alimentador automático e uma caixa de areia automática", disse Galaxy. "Isso não funciona. Meu conselho para pessoas que querem isso é que comprem peixes de estimação".
A prática - Começamos estipulando qual seria a recompensa de Mac: seu lanche preferido, biscoitos com sabor de carne, chamados Greenies. "De agora em diante, você só dará biscoitos para ele quando estiver colocando a coleira", ensina Galaxy.
Também tive que me certificar que Mac estava com fome antes de cada sessão, para que ele reagisse aos biscoitos. Segundo Galaxy, gatos não fazem o que você quer apenas para agradá-lo, como os cães. "Quando ele ficar satisfeito, já era".
Coloquei a coleira em Mac e Galaxy me disse para dar um biscoito imediatamente para ele. "Ele precisa aprender que essa ação vale uma recompensa e seu limiar de atenção é de cerca de dois segundos", disse.
Depois, pediu para eu me afastar um pouco, balançar o saco de biscoitos e chamar o Mac. Eu dava alguns passos para trás, oferecia um biscoito quando ele chegava perto e me afastava um pouco mais. Passados cerca de 15 minutos de coleira, o rabo de Mac começou a balançar e ele desabou no chão. "Vamos parar por aqui", disse Galaxy. "Queremos deixar o gato se sentindo confiante".
Durante o tempo que mantivemos a coleira, Galaxy também encorajou constantemente Mac com tapinhas na cabeça e muitos "bom garoto". Ao ir embora, Galaxy me disse para dividir o objetivo de passear do lado de fora em pequenas etapas antes de finalmente sair para a rua.
De olho na rua - No dia seguinte, Mac começou a ronronar quando peguei a coleira e os biscoitos. Mas nós realmente fomos devagar. No quarto dia, na varanda, meu gato andou cerca de um metro, depois deitou no chão. No décimo quarto dia, ele continuava andando cerca de um metro, depois deitando no chão. No trigésimo dia, chegamos até o saguão, onde ele andou cerca de um metro, depois deitou no chão. Para variar um pouco, algumas vezes ele corria até a escada e se escondia.
Galaxy sugeriu que eu obrigasse o Mac a andar distâncias maiores entre os biscoitos e, se ele se apavorasse, eu deveria voltar para o último ponto até que ele se sentisse novamente confiante. Quando voltávamos para o apartamento, ele ainda atacava as minhas pernas de vez em quando, mas normalmente apenas se esfregava nelas e depois tirava um cochilo sobre a televisão. Na rua, continuava tímido, se esgueirando ao ver um skatista, um caminhão de cimento ou um cachorro.
Pensei que, se Mac não conseguisse relaxar nas ruas, talvez conseguisse no parque. Então o coloquei em sua caixa transportadora, peguei o metrô e, chegando ao Prospect Park, no Brooklyn, prendi sua coleira antes de soltá-lo.
O gato ficou desesperado de medo e escalou a minha calça jeans. Tentei outra vez, em uma área proibida para cachorros, que era arborizada e acidentada. Lá, Mac colocou a cabeça para fora da caixa, olhou ao redor e deu alguns passos cautelosos. Depois, foi que foi. Com o rabo para o alto e a cabeça erguida, correu por trilhas, pisou em troncos e se embrenhou em galhos.
Livre, leve e solto - Ele estava se movendo de uma maneira que eu nunca tinha visto, reagindo ao canto dos pássaros com tremeliques de orelha, andando como uma onça entre árvores caídas, enfiando o nariz em buracos e testando os troncos com suas patas. Ele se perdia, virava e se enroscava em sua coleira. De vez em quando, olhava para trás para se certificar de que eu continuava lá. De volta para casa, ronronou e dormiu a maior parte do dia. É assim que um gato exercitado age.
Galaxy se encontrou comigo e com o Mac no parque em um dia frio de dezembro para nos observar enquanto passeávamos. Ele ficou muito feliz com o progresso do gato, mas ofereceu alguns conselhos. Quando Mac ficasse paralisado ao ver um cachorro ou um corredor eu não deveria parar também, mas tentar calmamente redirecionar sua atenção, chamando-o para outro lugar.
Seis semanas depois de começar, tenho um gato relaxado e, provavelmente, uma reputação crescente de maluca dos gatos. Levar Mac para o parque é um ótimo passeio e não tem problema se ele nunca chegar a caminhar ao meu lado quando eu for comer fora. Afinal de contas, ele é um gato – e eu já aprendi que isso significa que ele só faz o que quiser fazer. Acho que Mac me adestrou muito bem.
Fonte: Veja
Blog do Johnnyon

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