Blog do Johnnyon
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
Nova raça de cães no metrô de Moscou?
BICHOS - JAIME SPITZCOVSKY
Nova raça no metrô de Moscou
jaimespitz@uol.com.br
Foto e vídeo by http://www.metrodog.ru/
Entre a multidão que diariamente abarrota vagões do metrô de
Moscou, serpeiam cães vira-latas. Uns, em busca de comida, cumprem rotina de
descer nas paradas que os levam a locais onde abocanham o alvo com mais
facilidade. Outros adotaram a entrada da estação como lar e exercem a função de
vigilância, ao impedir o acesso de outros animais e até mesmo de bêbados.
Um desses vigilantes foi morto a facadas por russa que
levava o cão de estimação e recusou-se a mudar de rumo por conta dos latidos de
Maltchik (menino, em russo), vira-lata preto que transformou uma entrada da
estação em seu território. O animal assassinado virou estátua de bronze, paga
por um grupo de admiradores, e hoje adorna o local.
A autora do absurdo ataque foi presa, julgada e submetida a
tratamento psiquiátrico por um ano. O ato sanguinário gerou indignação em
vários cantos de Moscou, metrópole famosa pela atitude amigável com os
companheiros de quatro patas e pela tradição de vira-latas vagando na
"ulitza" (rua, no idioma de Pushkin). A famosa literatura russa já
menciona cachorros de rua em páginas escritas no século 19.
Os cães usuários de metrô constituem uma categoria à parte.
São admirados pela sagacidade e devoção ao convívio com humanos. Estimativas
apontam cerca de 500 animais vivendo em estações e 20 deles usuários de vagões
como meio de transporte. Ganharam até mesmo um site para fãs postarem vídeos e
fotos (www.metrodog.ru).
Quando conheci a história, surpreendi-me com o fato de ter
morado quatro anos em Moscou, como correspondente desta Folha, e, usuário
frequente do metrô, nunca ter tido o prazer de compartilhar o banco com um cão.
Matei a charada mais tarde. Vivi lá em meados dos anos 1990, exatamente na era
da desintegração da União Soviética.
O fenômeno dos cães num dos metrôs mais famosos do mundo,
por sua extensão e beleza, explodiu sobretudo a partir dos primeiros passos do
capitalismo pós-soviético.
A sociedade mergulhou numa impressionante desorganização,
agravada pelas oscilações do então presidente Boris Yeltsin, ponta-de-lança da
destruição da URSS, mas com pouco talento para liderar um processo de
reconstrução.
Na turbulência socioeconômica, os cães também pagaram um
preço. Aumentou a frequência de abandonos. Muitos animais se viram na rua e
alguns, mais tarde, encontraram no transporte coletivo subterrâneo o caminho
para encontrar comida. Aguardam na plataforma, adentram o vagão ao lado dos
humanos e, caso haja lugar vago, se aninham para uma leve soneca.
Nos últimos anos, a economia russa se aprumou. Escassez
soviética e turbulência ieltinista ficaram para trás, e a oferta de comida para
os vira-latas aumentou. Especialistas mergulharam no estudo desses improváveis
e argutos usuários de metrô. Estaríamos diante do surgimento de uma nova raça,
especializada em usar escadas rolantes e ouvir os avisos do condutor do trem?
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