segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A maternidade canina




"Um tributo à maternidade canina" artigo de JAIME SPITZCOVSKY jaimespitz@uol.com.br



Nunca leram best-sellers pediátricos de Benjamin Spock, nunca fizeram curso de gestantes num hospital sofisticado, tampouco contaram com valiosos conselhos de avós. Apesar disso, costumam ser mães exemplares. E confesso que, na minha convivência canina, um dos momentos mais emocionantes, de memórias indeléveis, foi observar minhas cadelas exercendo a maternidade.
Oksana chegou à minha casa com cerca de três meses de idade. Vássia, macho da mesma raça, tornou-se seu companheiro inseparável. Pouco mais de um ano depois, a futura matriarca da matilha emprenhou.
Quem procurou literatura à la Benjamin Spock para cachorros fui eu. Vasculhei livros com dicas para marinheiro de primeira viagem, busquei conforto psicológico ao ouvir conselhos de veterinárias com jeito de parteiras. Segui à risca, durante a gestação de Oksana, recomendações sobre alimentação, rotina de exames. Cheguei ao paroxismo da angústia humana quando a "ginecologista" anunciou que, em poucos dias, a ninhada nasceria.
"E o que faço na hora H?", indaguei. "Nada", respondeu com uma dose de soberba a veterinária: "Pode deixar que a Oksana faz tudo".Mas logo descobri que conquistas tecnológicas humanas poderiam ajudar a parturiente, ainda que a contribuição parecesse rudimentar. Já seria um imenso auxílio à natureza colocar a cadela dentro de um espaçoso quadrado de madeira, com paredes baixas que impedissem a saída de pimpolhos mais arrojados.
O parto estava previsto para uma quinta-feira. Porém, na noite anterior percebi Oksana numa agitação inusual. Coloquei-a para dormir na sala de TV, junto ao quadrado de madeira, e, por temer que pudesse parir a qualquer momento, decidi repousar ao seu lado.
De manhã, começou o parto. Ela se ajeitou nos lençóis preparados para receber a ninhada e, em seguida, apareceu o primeiro rebento. As palavras da veterinária ecoaram em minha cabeça: "Pode deixar que a Oksana faz tudo". Receoso de atrapalhar, decidi acompanhar a distância, no sofá da sala ao lado. Não teria a visão do parto, mas deixaria a mãe em paz.
Aboletei-me no sofá. Imaginava monitorar os nascimentos captando grunhidos. Ouvi, logo em seguida, um som novo que meu deu a certeza da chegada de mais um integrante da matilha. Foi quando Oksana proporcionou um momento inesquecível.
Surgiu na porta da sala de TV, com o filhote à boca. Fiquei estático. Passos firmes, a cadela veio na minha direção e largou o recém-nascido sobre meu colo. Interpretação correta ou não, traduzi a mensagem. Oksana veio me mostrar a prole pois queria minha presença ao seu lado.
Peguei, meio sem jeito e com extremo cuidado, o samoiedinha despelado, para sair em disparada de volta à sala de TV. Assim que Oksana se aninhou, devolvi o filhote. Chegaram então mais três. Hipnotizado, acompanhei a cadela lidar, cheia de sabedoria, com o desafio. Limpava os rebentos, ajeitava-os com o focinho. Fantástico desempenho. Simplesmente fantástico. E emocionante.

Fonte: Folha (exclusivo para assinantes Folha e UOL)
Blog do Johnnyon

Um comentário:

  1. É incrível mesmo, já presenciei o parto da minha cadelinha e foi emocionante...

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