segunda-feira, 11 de julho de 2011

Matilha Cultural dá chance para que cães convivam com a arte



No coquetel elaborado pelo chef João Branco, os humanos serviam-se de azeitonas e canapés em cumbucas, enquanto os quadrúpedes atacavam petiscos e ossinhos em pratos de porcelana. "Adorei curtir uma 'night' com os meus filhotes", diz Carol Agacci, 29, dona do pug Boris e da buldogue francesa Bela, os mais empolgados com as instalações sensoriais espalhadas pela galeria.
A balada canina, ao som da "black music" dos DJs MZK e Nuts, marcou a inauguração do projeto "PráCachorro" da Matilha Cultural, com exposições e atividades para caninos e seus donos. "Aqui, todos são bem-vindos, inclusive os humanos", brinca Rebeca Lerer, 34, diretora de conteúdo do espaço. Após uma primeira edição em 2010, o evento deste ano tem inspiração nos cães de rua.
Maria do Carmo/Folhapress
Os integrantes do coletivo e a mascote Tofe na sede da Matilha
Integrantes do coletivo e a mascote Tofe (foto) na sede da Matilha Cultural, no centro de São Paulo
Eles estão nas fotos em preto e branco de Tatiana Saccomanno, nas telas dos artistas Chambs e Chivitz e na pele da mascote da casa, a vira-lata Tofe. "Nesse trabalho, busquei o olhar de apreensão e solidão dos cachorros de rua", conta a fotógrafa Tatiana, que há mais de 20 anos clica animais Brasil afora. "O grande problema do animal é o homem. Por isso, precisamos rediscutir a nossa relação."
Como exemplo de inovação do papel do cachorro na sociedade, a Matilha apresenta fotos exclusivas do Loukanikos. Para quem não conhece, ele é o cão que participa de todos os protestos que acontecem na Grécia contra a crise econômica do país. "O Loukanikos é ídolo", afirma Rebeca. "A homenagem a ele serve para mostrar que até os cachorros participam das lutas mundo afora."
INDEPENDENTE ARTE CLUBE
A Matilha, que surgiu em 2009 da ideia do cineasta Ricardo Costa, 35, ex-dono da produtora Old Dog Films, de dar um espaço cultural para a cidade em moldes só conhecidos antes na Europa, parece estar dando certo.
Além de ser "dog friendly" -os cachorros são bem-vindos até na sala de cinema, mas o cheiro de desinfetante não passa despercebido-, de ter um café orgânico e de as exposições e os eventos terminarem em horário em que ainda é possível usar o transporte público, a programação é toda gratuita e os organizadores do espaço funcionam como um coletivo.
Como acontece nos centros de arte ingleses, eles fazem questão de interagir com o local que habitam. No ano passado, uma campanha da Matilha plantou no bairro 400 novas árvores. "As mudas foram doadas pela secretaria do Verde e Meio Ambiente e, para isso, fizemos um abaixo-assinado envolvendo os moradores da região", conta Rebeca, que já trabalhou no Greenpeace. Em dois anos, o cinza da rua Rêgo Freitas, próxima à praça Roosevelt, deverá diminuir graças à trupe.
Como não tem patrocinadores nem fins lucrativos, o centro cultural sobrevive da locação do espaço para eventos fechados. Para conseguir projetar filmes como "Exit Through the Gift Shop", documentário do lendário grafiteiro inglês Banksy, que teve lotação total, eles fazem parcerias com outros centros culturais, como o Instituto Goethe, da Alemanha.
"Queremos a liberdade de falar em um dia sobre os conflitos no mundo árabe e no outro sobre skate e arte de rua", diz Rebeca. Ela acredita que todo tipo de manifestação cultural que não tem espaço nos grandes palcos pode ser visto ali, nos três andares que foram reformados com tintas sem metais pesados e receberam só material de demolição por ideologia.
Dois bons exemplos foram a exposição "Re:board", em que os expoentes do skate Sésper e Bitão apresentaram a história do esporte em formato de "shapes", e a apresentação de "Caligrafia Mau Dita", um documentário sobre pichação. "A ideia para o disco do Criolo Doido também nasceu aqui", conta Rebeca, orgulhosa. Ela se refere ao CD "Nó na Orelha", que virou febre na cidade.
No fim do mês, outra boa exibição acontece por lá. É a apresentação de "Malditos Cartunistas", documentário de Daniel Paiva sobre a profissão de desenhista de humor no Brasil desde o "Pasquim" até hoje.

SERVIÇO
Matilha Cultural - r. Rêgo Freitas, 542, República, centro, São Paulo, SP. Tel.: 0/xx/11/3256-2636. www.matilhacultural.com.br

Fonte: Folha
Blog do Johnnyon

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