Blog do Johnnyon
terça-feira, 25 de outubro de 2011
Cães ganham psicólogos, creches e privilégios
Rio de Janeiro
Uma família que se acostumou a uma rotina que envolve lidar
com profissionais de uma creche. Ou outra que tem que resolver alguns problemas
domésticos com a ajuda de um psicólogo. Até mesmo encontrar um acupunturista
para dores “incuráveis”. Até aí, nada demais, se tudo isso não fosse para um
cachorro. Os serviços para cães e gatos cada vez mais se assemelham aos
elaborados para os donos, que, muitas vezes tratam o cachorro de casa como
filho.
A estudante de arquitetura Juliana Acar comemora o fato de
seu weimaraner Ziggy ir à creche três dias por semana. “Ele é uma peste, quando
volta de lá não está mais endiabrado. No dia seguinte ele fica em casa,
cansado”, contou. Ziggy vai duas vezes por semana para o sítio Casa de Simbad.
Pelo serviço, os donos pagam R$ 30 por dia. Lá os cachorros correm à vontade,
comem, brincam e “deixam por lá toda a energia acumulada no apartamento”,
segundo Juliana.
O dono do espaço Daniel de Freitas Mesquita explica que o
diferencial do lugar é que os bichos ficam soltos o dia inteiro. “A gente só
põe eles no canil na hora de comer e de dormir, quando eles vão para passar a
noite. Os cachorros maiores gostam muito de ficar na piscina, os menos não
ligam muito. A gente joga bolinha com eles, põe eles para correr. A mangueira
com água também faz sucesso”. Daniel disse que o sítio também funciona para
hospedagem, em que o cachorro dorme por alguns dias. Para este serviço o preço
é, em média R$ 50, dependendo do tamanho do cão e do número de dias que ele
ficará hospedado.
Ele e a mulher, Jacqueline César Thompson, têm o local há
três anos. E é lá onde eles moram também. “Temos uma limitação de estrutura,
por isso só aceitamos 15 cachorros por vez. Geralmente ficamos com uns sete.” E
as brigas não são tanto frequentes quanto se pode imaginar: “Só me lembro de
duas, geralmente cachorros grandes nem ligam para os pequenos. Até quando os
menores ficam pulando nos grandes”, relatou.
Psicólogos para
cachorros O mau comportamento de um animal, que antes muitas vezes era
resolvido de maneiras politicamente incorretas, agora tem soluções mais
embasadas: a zoopsiquiatria, terapia comportamental e antrozoologia (relação
entre homens e animais). Cristiane Moll é especialista nos três temas.
“A gente observa o animal. Vou para a casa da pessoa,
procuro falar com uma ou mais pessoas da família, vejo como cada um vê o
comportamento do animal. Dependendo do caso, posso fazer prescrição de
remédios. O trabalho é identificar através do proprietário comportamentos que
não são desejados. Vamos identificar quais são próprios e normais dos animais.
Por exemplo, fazer xixi e latir são normais, mas não em qualquer lugar e não o
tempo todo”, explicou. “Às vezes o bicho está querendo passar alguma coisa, e o
dono não percebe”, concluiu.
Quem não mede esforços para cuidar de seus dois cachorros é
Marco Antônio, mais conhecido como Totó. Ele tem uma vira-lata e um golden
retriever, que “só falta falar”. Para ele, tratar cachorros como filhos é uma
tendência mundial. “É a descrença no ser humano. As pessoas se apegam ao
bichinho, porque ele só traz alegrias. Só traz tristeza quando fica doente ou
quando morre. As pessoas não confiam mais tanto nos humanos”, disse. Ele
explicou que o mercado pet atualmente é um mercado em crescimento constante. Há
bolsas de joias de luxo, que custam fortunas, elaboradas por grande marcas
especialmente para cachorros. “E essas bolsas têm uma grande procura, são
feitas sob encomenda e tem fila de clientes”, ressaltou.
Xampu caro para o
'filho' Os “filhos” de Totó dormem na cama com ele. “No frio eles esquentam
meu pé. Quando eu viajo, levo a nécessaire deles, com xampu, escovas,
condicionador e até o perfume francês. O perfume deles custa R$ 79. O xampu
custa mais caro que o meu próprio. Eu gosto de dar banho neles no meu banheiro.
E quando viajo só vou para lugares que aceitem cachorros. Já deixei de viajar
porque eles não poderiam ir junto”, contou.
O cachorro da médica Marta Galvão tem todas as regalias que
pode ter dentro de casa. Até uma rampa para Tevez – o buldogue francês da
família Galvão - enxergar a rua de cima de um tablado foi construída na janela
do apartamento onde mora, em Copacabana, na Zona Sul do Rio. “Embora as
atividades como passeio, alimentação e banho semanal fiquem por minha conta,
todos contribuem de alguma forma. Tevez nunca esteve em uma petshop para banho,
faço questão de fazê-lo e tem sido um momento prazeroso para nós, onde
brincamos e “conversamos” bastante. Escovo seus dentes pelo menos duas vezes
por semana. Seguimos cuidadosamente o calendário de vacinações e as visitas ao
veterinário. Alimenta-se quase exclusivamente de ração e de alguns petiscos que
só compro se não tiverem em sua composição conservantes ou corantes. Quase
porque Felippe compartilha um ou outro pedaço de carne.”
'Adora ver o movimento
dos caminhões da Comlurb' “A ideia da rampa veio a partir da observação que
ele adorava quando o levávamos à janela, no colo. Projetamos uma bancada com
largura e comprimento suficientes para mantê-lo confortavelmente deitado para
apreciar a rua. Construímos uma rampa, adequamos a inclinação e a forramos com
material emborrachado para evitar escorregões e quedas. Surpreendeu-nos quando
ficou pronta e Tevez imediatamente a subiu, sem esforço e sem qualquer
manifestação de medo.
E a reação de Tevez foi a melhor possível: "Pareceu-nos
que esperava por aquilo há muito tempo. Observa o mundo lá fora, ora com
atenção, ora com desprezo, e chegando mesmo dar as costas para a rua, mas lá de
cima. É seu ponto de observação, gosta de tomar sol ali e parece se divertir
com seus semelhantes que passam lá fora. Adora ver o movimento noturno dos caminhões
da Comlurb”, explicou.
A médica disse que Tevez se tornou da família. “Mora
conosco, nos emociona, nos diverte, nos preocupa, tem sua caminha, sua
rampinha, passeia pela casa sem cerimônia, conhece as regras. É sociável e
gentil com as visitas. Parece compreender perfeitamente sua posição no grupo.
Todos, sem exceção, o amam. Tornou cada um de nós mais paciente, mais
observador, mais cuidadoso e também mais humanos, nos obrigando a nos
debruçarmos sobre sua fragilidade, dependência e inocência para percebermos o
quanto é importante, insubstituível e amado”, completou.
Fonte: G1
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