segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Livro conta a história da advogada cega e cão-guia que desafiaram o metrô brasileiro





"Minha vida com Boris" (Editora Globo, 2011) narra a história do labrador e cão-guia que dá nome ao livro e suas vivências com a advogada brasileira Thays Martinez, cega desde os quatro anos. A dupla tem participação direta na conquista pelo direito dos deficientes visuais transitarem no metrô com estes animais.

Nascido em Rochester, no estado do Michigan, nos Estados Unidos, Boris foi trazido ao Brasil por sua dona. Foram barrados ao tentarem utilizar o metrô em São Paulo. Desde então, iniciou-se uma disputa judicial de cinco anos que ajudou a pressionar o poder público para obter a liberação por lei dos cães-guias no transporte subterrâneo.
Cheio de aventuras e episódios bem-humorados, o volume mostra como é o cotidiano de uma deficiente visual desde a escolha da roupa até a saída de casa. Também revela os profundos laços de carinho, amizade e confiança que se desenvolveram entre o animal e a escritora nos dez anos em que estiveram juntos e como superaram os mais adversos obstáculos.
Leia trecho do capítulo "A Batalha no Metrô" (páginas 53 e 54).
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Naquela manhã de maio o clima ameno combinava perfeitamente com a satisfação que eu sentia por estar retornando ao trabalho com muito mais liberdade. Boris também estava tranquilo e feliz. O que não poderíamos imaginar é que estávamos saindo de casa para fazer história.
Quando o primeiro funcionário do Metrô informou que eu não poderia entrar com o Boris, achei quase natural, mas quando ouvi um quarto funcionário dizer que o Jurídico havia mandado o recado que eu não poderia mesmo entrar com o cão, eu simplesmente
não queria acreditar.
Naquela época eu trabalhava no Ministério Público em um Grupo Especial de Proteção aos Direitos das Pessoas com Deficiência. Decidi ligar para os promotores, que se prontificaram a entrar em contato com os advogados do Metrô. Havia promessas de que a situação seria resolvida, mas o tempo continuava passando.
O problema era sério e, tecnicamente, ou seja, do ponto de vista do Boris, era seriíssimo, porque criou um transtorno no treinamento dele. De tanto eu ir e voltar para o orelhão que eu estava usando para fazer ligações e tentar solucionar o problema, o Boris começou a achar que orelhão era uma coisa boa. Ele estava formando uma imagem positiva de um obstáculo que deveria evitar. Esse equívoco precisou ser corrigido depois com um treinamento específico.
A confusão nos tomou cerca de duas horas. Moisés e eu resolvemos deixar para resolver a questão administrativamente por telefone e voltamos para casa. O treinamento do Boris, que era o objetivo de estarmos fazendo tudo aquilo, seria ainda mais prejudicado se permanecêssemos um minuto a mais naquele lugar. No mesmo dia, ainda liguei para uma advogada do Metrô, que prometeu uma solução para o dia seguinte. Ela pediu que passássemos para eles um fax com a cópia da lei e também um pedido formal para que fosse autorizado o acesso do Boris à estação. Dessa forma, não haveria mais problemas. Passei o fax e, no dia seguinte, lá fomos nós três novamente para a estação. Na verdade, o Boris foi direto... adivinhe para onde? Para o orelhão! Tudo bem, isso a gente resolveria depois.
Lá fomos nós em busca da escada rolante por onde já tínhamos circulado no dia anterior. Quando fui passar pela catraca, novamente escuto: "Não pode". De nada adiantou argumentar que já havíamos atendido à solicitação da advogada, que mandamos o fax, fizemos tudo o que nos foi pedido. Diante de nossa insistência, ligaram no Departamento Jurídico para confirmar a história. Ouviram como resposta que não houve tempo para análise, para um parecer, e começou a enrolação.
Tudo de novo. Formou-se um tumulto e um usuário acabou chamando a polícia. A história precisou ser contada mais uma vez. Expliquei que havia sido impedida de entrar e mostrei a cópia da lei, que não estava sendo respeitada. O policial me deu razão e mandou que se cumprisse a lei. Ele me orientou a passar pela catraca com o Boris. Se alguém tentasse me impedir, seria autuado. Após a advertência, por incrível que pareça, e na presença do policial, assim que eu e Boris cruzamos a catraca e demos os primeiros passos em direção à plataforma de embarque, senti dois braços segurarem meu ombro. Eu não queria acreditar que eles haviam chegado a esse ponto.
Só havia uma coisa a ser feita naquele momento: o policial levou todo mundo para a delegacia que ficava dentro da própria estação. Foi aquela confusão para fazer o boletim de ocorrência. Naquele dia, ficamos sete horas envolvidos nessa discussão, somando-se o tempo perdido na estação e na delegacia.
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"Minha vida com Boris"
Autora: Thays Martinez
Editora: Editora Globo
Páginas: 144
Quanto: R$ 21,50 (preço promocional, por tempo limitado)
Onde comprar: 0800-140090 ou na Livraria da Folha
Atenção: Preço válido por tempo limitado ou enquanto durarem os estoques. Não cumulativo com outras promoções da Livraria da Folha. Em caso de alteração, prevalece o valor apresentado na página do produto.
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