Blog do Johnnyon
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
Cão-guia ainda é um sonho distante
As entidades que formam os animais têm de se preocupar também com a escolha das matrizes - o casal reprodutor que dará origem aos filhotes. A coordenadora do Projeto Cão Guia da ADA (Associação Brasiliense de Ações Comunitárias), Maria Lúcia de Campos, explica que o par tem de ser saudável para que a cria apresente menos riscos de doenças hereditárias.
No Grande ABC, cuja população estimada de cegos é 17,5 mil pessoas, existem pelo menos dois cães-guia. Um dos deficientes que conseguiu um animal foi o consultor de informática Luiz Eduardo Porto de Oliveira, 43 anos, de São Caetano. Há três anos ele ganhou a companhia de Harry, um labrador preto treinado em Brasília.
Oliveira ficou cego aos 23 anos, quando foi acometido por uma retinoise pigmentar. Desde então, passou a utilizar a bengala como instrumento de auxílio para se locomover. A partir de 2001, iniciou a busca por um cão-guia. Em 2006, entrou na fila de espera do instituto brasiliense, sendo chamado apenas dois anos depois.
Atualmente, o consultor se sente mais seguro para caminhar, o que resulta em independência. "Quem tem o cão-guia, jamais quer voltar para a bengala. Eu faço tudo, tenho uma vida normal", conta. Oliveira ressalta que, desde que começou a contar com Harry, nunca mais caiu ou bateu a cabeça em orelhões, conhecidos vilões dos cegos. "Eles são treinados para desviar de obstáculos aéreos."
Reação ainda é de espanto e surpresa
"Nossa, é um cão-guia?" "Que bonitinho! Posso por a mão?" Essas são algumas das reações de quem vê um deficiente visual sendo guiado por um animal pelas ruas. A equipe do Diário andou por cerca de uma hora e meia pelo Centro de São Caetano acompanhada do consultor de informática Luiz Eduardo Porto de Oliveira, 43 anos, e de Harry, o labrador preto que orienta seus passos.
Por lei, os estabelecimentos públicos e privados são obrigados a permitir a entrada desse tipo de animal. Em nenhum dos locais visitados, como shopping, lanchonete e loja de roupas, Harry foi barrado. Mesmo assim, muitos demonstravam espanto ao ver pela primeira vez um cão-guia.
A aposentada Joaquina Ferreira, 72, queria brincar com o labrador. "Adoro animais, na minha casa eu tenho três. Isso é uma coisa abençoada." Ela contou que nunca havia se deparado com um cão-guia em outras ocasiões.
Apesar do temperamento manso e da boa aparência do cão, não é aconselhado fazer carinho no bicho enquanto ele guia alguém. "Isso acaba desconcentrando o cachorro e pondo em risco nossa segurança. As pessoas têm que entender que ele está a trabalho", alerta Oliveira. O consultor diz que nem sempre as orientações são atendidas. "Muitos acham que estamos sendo antipáticos."
Durante a semana, a reportagem também acompanhou os passos de Ema, uma filhote de labrador que está sendo treinada ser guia. Quem acompanha o treinamento é a estudante Vânia Feitosa, 22, que não é deficiente visual. Mesmo ainda não sendo uma cadela formada, Ema também não foi impedida de entrar nos lugares por onde visitou, como lojas e praça de alimentação do Shopping Grand Plaza, em Santo André, e a estação de trem da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), de onde partiu para uma viagem de ida e volta até a Estação de Utinga. Dentro do estabelecimento, a dupla teve dificuldade para caminhar, devido ao grande número de curiosos que as paravam no meio do caminho.
A estudante conta, no entanto, que já teve dificuldades para passear com a cachorra. "No trólebus e no metrô, muitas vezes tentaram nos impedir de entrar. Mas foi só eu mostrar a lei para os funcionários que eles acabaram cedendo. Mesmo assim, foi meio a contragosto", relata.
Ema faz parte de um projeto do Sesi (Serviço Social da Indústria) para treinar novos animais. A ação é fruto de uma parceria com a Fundação Dorina Nowill e o instituto Meus Olhos Têm Quatro Patas. A coordenadora do projeto, Beatriz Canal, informa que o investimento aplicado para a capacitação de 32 cães é de R$ 1 milhão.
Treinamento demora cerca de dois anos
Para que um filhote esteja pronto para guiar uma pessoa, o tempo de treinamento é de aproximadamente dois anos. A capacitação é dividida em três etapas. Na primeira, o animal passa por um processo de socialização. Nesse período, convive com uma família de pessoas sem deficiência, que é incumbida de levar o cachorro para passear em locais de grande circulação para acostumar com o movimento. Esse processo encerra quando o bicho completa um ano.
Em seguida, o animal é levado novamente ao canil, onde passará pelo processo de treinamento. "A ideia do treinamento é mostrar para o cão que o dono é cego e precisa dele. É criar uma consciência. Não é um adestramento como nos cães da polícia, e sim uma educação", explica o economista Luiz Alberto Melchert Silva, presidente do Instituto Meus Olhos Têm Quatro Patas. Esta fase dura entre seis e oito meses.
Na última etapa do treinamento, o cão inicia a convivência com o cego. Nessa etapa, que leva aproximadamente três meses, o deficiente aprende a interpretar os sinais emitidos pelo animal, como alerta de obstáculos, por exemplo.
A presidente do Instituto Iris, Thays Martinez, foi uma das primeiras pessoas a contar com cães-guia no Brasil. Em 2000, passou a ter a companhia de Boris, um labrador amarelo treinado nos Estados Unidos. O cachorro foi aposentado em 2008 e faleceu em 2009. Desde então, Thays passou a conviver com Diesel, um labrador na cor preta.
Ela conta que, antes da criação da lei federal 11.126, de 2005, a dificuldade para entrar com o cachorro nos locais de grande circulação era ainda mais difícil. Ela travou batalha judicial com o Metrô de São Paulo, que não queria deixá-la entrar nas composições com o animal. Foi necessária uma liminar que garantisse o acesso. "Infelizmente, as pessoas têm falta de conhecimento e acabam rejeitando os animais por ignorância."
Fonte: www.dgabc.com.br
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