terça-feira, 12 de julho de 2011

Burros não vão ao dentista por desconhecimento dos criadores



Noventa por cento dos proprietários de burros desconhecem os cuidados que devem ter com a saúde dos dentes e da boca dos seus animais. Perante a situação, o veterinário João Rodrigues tem em curso na região raiana de Trás-os-Montes e Castela (Espanha) uma investigação científica que pretende divulgar o estudo “epidemiológico comparativo da patologia estomatológico-dentária presente nos efectivos da raça Asinina de Miranda e Burro Zamorano-Leonês”.
João Rodrigues disse à agência Lusa que o objectivo do trabalho prende-se com a aplicabilidade dos conhecimentos da Medicina Dentária Equina no estudo de raças asininas autóctones ibéricas ameaçadas e a obtenção de resultados pode contribuir com novos e importantes elementos que permitam um aumento do seu bem-estar.
“Ao mesmo tempo levamos a cabo uma gestão mais eficaz dos efetivos, contrariando a tendência para a sua diminuição e consequente preservação da biodiversidade e deste importante patrimônio genético mas também histórico-cultural único no mundo”, acrescentou o investigador.
O consultório do veterinário é o local onde os proprietários se juntam levando os seus animais pela “rédea” para que sejam observados e os dentes dos seus burros e burras sejam tratados, limados, extraídos ou corrigidos.

“Tenho burros há muitos anos, mas nunca tinha visto fazer este tipo de trabalho. Por vezes passam aqui outros veterinários, mas dedicam-se a outra coisas. Cuidar dos dentes dos burros é a primeira vez”, disse à agência Lusa Natividade Arribas, após levar os seus burros aos cuidados do veterinário dentista.
À medida que a manhã passa, o número de clientes aumenta e só na pequena aldeia de Freixiosa (Miranda do Douro) contribuíram para a tese de doutoramento do veterinário mais de uma dezena de animais.
“A minha burrica já não comia e agora reparei que tinha os dentes da frente estragados e o veterinário teve de lhos tirar”, observou Margarida Martins, de 70 anos.
O trabalho tem como base um estudo de doutoramento promovido pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e é financiado pela Fundação Ciência e Tecnologia, cujo principal objetivo é investigar a incidência da patologia estomatológico-dentária que afeta a população do burro de Miranda e do burro Zamorano-Leonés, através da realização de um estudo epidemiológico comparativo.
João Rodrigues pretende analisar 800 animais  (Foto: AEPGA)
João Rodrigues pretende analisar 800 animais (Foto: AEPGA)
“Pretende-se examinar 400 animais de cada uma das raças, o que representa aproximadamente 50 por cento do total. Até ao final do trabalho de investigação serão vistos cerca de 800 animais (400 de cada raça) e percorridas mais de 90 aldeias de ambos os lados da fronteira”, avançou João Rodrigues.
É nesta região de Miranda do Douro, Mogadouro, Vimioso e Bragança que desde 2003 surgiu a primeira e única raça autóctone de burros reconhecida em Portugal: a raça Asinina de Miranda.
A raça está classificada atualmente como “muito ameaçada”, o seu efetivo reduzido e envelhecido não ultrapassa as 300 fêmeas com capacidade reprodutiva e 20 a 30 garanhões (num total de aproximadamente 800 animais registados). Por este motivo, João Rodrigues tem em mente percorrer mais de 40 mil kms para ajudar “tão importante” animal, fiel amigo das gentes do campo e da lavoura. O investigador afirmou, por fim, que a preservação da biodiversidade doméstica e dos seus recursos genéticos são atualmente uma prioridade a nível mundial.



Blog do Johnnyon

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